terça-feira, 14 de junho de 2011

Ensinar X Educar

Num tempo relativamente curto após o nascimento somos ensinados a abanar, fazer careta, fazer "sim" ou "não" com a cabeça, caminhar, falar e muitas outras façanhas. O tempo vai passando e os ensinamentos não param: passamos a escovar os dentes; a tomar banho e trocar de roupa sozinhos; a andar de bicicleta, skate, patins; a nadar; a operar aparelhos eletroeletrônicos; a jogar futebol, vôlei; a ler; a escrever; a dirigir um veículo; etc. Resumindo, sempre estamos sendo instruídos sobre algo. O ser humano pertence ao reino animal e, ao longo de sua vida, passa por um processo de adestramento. Os agentes de ensino são as pessoas que nos cercam (qualquer uma que tenha mais experiência em algo) e os veículos de ensino são os familiares, os amigos, os conhecidos, os desconhecidos, as instituições de ensino e os meios de comunicação. somos ensinados tanto sobre o certo como sobre o errado.
Mas, somos animais racionais e, como tal, nossas necessidades vão além. Assim, paralelamente a este processo de adestramento, ocorre outro que se relaciona à educação, ou seja, a aquisição, ao cultivo e ao desenvolvimento de dotes físicos, intelectuais e espirituais, envolvendo valores, princípios e atitudes na esfera da ética, da moral. Através deste processo, somos educados para a nossa própria valorização/edificação e do nosso semelhante, da Natureza, da Vida, da Justiça, da Paz, do Bem, da Fé, etc. Nesta esfera, são preconizados o entendimento, a importância e o cultivo da caridade, da misericórdia, da compaixão, da amizade, da honestidade, da felicidade, etc, bem como o repúdio ao egoísmo, à insensibilidade, à inimizade, à desonestidade, à falsidade, à infelicidade, etc. Nesta esfera, nos é possível perceber a diferença e as consequências entre a prática do bem e do mau, do certo e do errado. Os responsáveis pela educação são os pais (ou aqueles que os substituem), os quais, na sequência da vida, recebem o auxílio dos professores, justamente no período de maiores transformações que o ser humano pode enfrentar, que são aqueles representados pelas fases de pré-adolescência e adolescência.
Desde o nascimento dos filhos, os pais estão sempre muito próximos no seu dia-a-dia. Ainda na infância, surgem os professores, que passam a auxiliar os pais, na medida em que são automaticamente eleitos, pela criança, como fonte de confirmação das afirmações/ informações que recebe no seio da família. Entendo que pais e professores são os nossos mais importantes formadores de opinião.
É possível perceber, portanto, que existe uma grande diferença entre ensinar e educar e o que mais me impressiona são duas questões básicas que prejudicam, sobremaneira, o processo de educação:
1ª) muitas famílias deixam a educação dos seu filhos escapar por entre seus dedos, basicamente para evitar confrontos, choques, desgastes. Assim, alienados, permitem que a educação dos filhos se dê através dos seus "amigos" (na verdade colegas, conhecidos), bem como dos astros e estrelas do lixo cultural humano - os ícones da baboseira musical, cinematográfica, televisiva e literária, que, de uma ou outra forma exaltam a banalidade, a pornografia, as drogas, a criminalidade;
2ª) os governantes brasileiros sempre promoveram o caos no processo de educação, certamente em nome da premissa básica de que é sempre mais fácil manobrar a "massa" menos favorecida da população, ou seja, aquela formada por pessoas carentes, que vivem à margem da sociedade, com nenhum ou pouco estudo, conhecimento, cultura e higiene, cuja principal preocupação é a de satisfazer necessidades básicas, dia após dia, do tipo "ter o que comer", "o que vestir" e "onde morar". Estas pessoas vendem seus votos e seu apoio em troca de esmolas (cesta básica, bolsa "isto", bolsa "aquilo").
O caos a que me refiro pode ser assim visualizado:
2.1) temos um Ministério da Educação e Secretarias Estaduais e Municipais de Educação que promovem o ENSINO e não a EDUCAÇÃO, até porque é uma tradição, que remonta à época da colonização do Brasil, treinar o professor para ensinar Matemática, Português, História, Geografia, Inglês, etc. Muitos "professores" do sistema público de ensino sequer conseguem ensinar de forma correta, pois falta-lhes a didática. O que se vê nos filmes "Sociedade dos Poetas Mortos" e "Ao Mestre com Carinho" está muito longe de virar uma realidade no nosso sistema de ensino;
2.2) os proventos dos professores, notadamente dos níveis fundamental e médio do sistema público de ensino, não são nada atrativos;
2.3) a estrutura de ensino público, hoje utilizada, permite que alunos avancem nos níveis letivos mesmo não estando alfabetizados ou não tendo atingido o nível de aprendizado exigido. O próprio Ministério da Educação confirmou esta prática, quando em 18/03/2013 explicou, através do Jornal O GLOBO, referindo-se aos critérios de correções de provas de português do ENEM, que os textos são analisados como um todo e o que importa, mesmo, é que o candidato tenha um bom domínio do português, mesmo que ele cometa pequenos desvios gramaticais. Os pequenos desvios referidos, que deram origem à explicação, foram erros de grafia como “rasoável”, “enchergar”, e “trousse”, bem como erros de concordância. Como é que alguém que cometa erros de grafia e de concordância pode ser considerado com bom domínio de português? Para mim está mais do que claro de que a grande preocupação dos nossos governantes é apenas a de melhorar o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) do Brasil perante os olhos dos demais países. O IDH é apurado anualmente pela ONU (Organização das Nações Unidas) a partir de dados relacionados à EXPECTATIVA DE VIDA, à EDUCAÇÃO (taxa de alfabetização e taxa de escolarização) e ao PIB (Produto Interno Bruto) per capita. A partir do IDH os países são classificados em DESENVOLVIDOS, EM DESENVOLVIMENTO e SUBDESENVOLVIDOS. O IDH do Brasil neste ano de 2011 o coloca em 85º lugar no ranking dos países;
2.4) provas são frequentemente violadas, antes da sua aplicação, por não haver uma efetiva fiscalização sobre sua confecção, guarda e distribuição. Processos de aplicação de provas são cancelados e todos os esforços, custos e sacrifícios feitos tornam-se inúteis;
2.5) filhos de famílias abastadas, que não teriam qualquer problema em custear estudos em Universidades do ensino privado, são os que mais tem acesso às Universidades Federais e Estaduais que, aliás, tem uma distribuição tal de cargas horárias entre as diversas Cadeiras, que torna muito difícil (para não dizer impossível) os acessos de estudantes pertencentes às famílias das classes sociais menos privilegiadas, pois estes necessitam, simultaneamente, estudar e trabalhar e isto fica impraticável quando, com frequência, as aulas ocorrem em turnos diferentes, no mesmo dia.
Diante deste contexto, estou mais do que convencido de que este é mais um quadro resultante da FALTA DE BOM SENSO, da HIPOCRISIA e da INVERSÃO DE VALORES.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Hipocrisia disfarçada de caridade.

No condomínio em que resido, à beira de uma das avenidas mais movimentadas de Porto Alegre, muitos moradores depositam sobre a lixeira, diariamente, sacolas com restos de comida. A lixeira está na calçada (passeio), na frente do condomínio, muito próxima da portaria. Ao indagar algumas destas pessoas sobre o motivo pelo qual fazem aquilo, afetando a imagem do condomínio quanto à limpeza e à organização, obtive uma só resposta: trata-se de alimentação destinada aos moradores de rua.
Fico impressionado sobre como algumas pessoas se colocam numa posição de tamanha superioridade em relação às demais, a ponto de estarem convictas de que suas ofertas, quaisquer que sejam, são preciosas/imprescindíveis àquelas necessitadas. Um resto de alimento, na maioria das vezes vencido, estragado, gelado, mal cheiroso e misturado sabe-se lá com o que, é largado em lugar infectado por diversos micro-organismos, a mercê do tempo, para ser aproveitado por um catador de papel, um morador de rua.
Pelo que percebo, estes meus vizinhos estão convencidos de que praticam a caridade, o que me leva a indagar se eles teriam a mesma convicção para oferecerem estas sobras da sua alimentação aos seus animais de estimação. Creio que não, pois, pelo que observo, seus animais de estimação são alimentados com rações especiais, sadias, vitaminadas e apetitosas. Não há a menor chance de se correr riscos com a saúde dos animais de estimação. Já com relação à saúde de pessoa que vive à margem da sociedade, que depende de "gestos caridosos" de quem tem para dar, bem... aí é diferente: a regra básica é expressa pela frase popular que diz que "em cavalo dado não se olham os dentes".
Certamente a situação que aqui descrevo representa uma realidade que se repete diariamente em diversas residências por este Brasil afora e se reveste de total falta de bom senso, de hipocrisia e inversão de valores.