segunda-feira, 17 de março de 2014

Mirar no Empregador e Atirar no Consumidor



Mesmo quem não participa do dia a dia do Governo, mas tem discernimento e junta uma notícia daqui, outra notícia de lá, acompanha os preços dos alimentos, produtos e  serviços, acaba concluindo, sem medo de errar, que o índice de inflação oficial não retrata a realidade, ou seja: a inflação real é maior do que a anunciada, bem maior (ou, então, que alguém com conhecimento de causa prove o contrário).
Este contexto leva as categorias trabalhadoras a pleitear, quando dos respectivos Dissídios Coletivos, aumentos reais, ou seja: aumentos em percentuais acima do da inflação.
Todos tentam e algumas categorias conseguem algum valor acima da inflação. Algo que, normalmente, não satisfaz, mas que é um pouco melhor do que a simples reposição da “inflação divulgada”.
O que me chama a atenção nesse processo é a grande demonstração de despreparo das categorias trabalhadoras em relação à forma de luta pelos seus direitos. No Brasil a forma de luta por melhores condições de trabalho é a greve. A greve traz prejuízos ao empregador. Mas eu pergunto: só ao empregador? Não. Muitos segmentos do Mercado, quando em greve, geram o maior prejuízo aos usuários dos seus produtos e/ou serviços, ou seja, justamente àqueles que, em última análise, são os que pagam os proventos e os benefícios mensais dos grevistas.
Peguemos como exemplo uma greve de transportes coletivos (público e privado):
o    a) O transporte coletivo existiria se não houvesse seu usuário?
           Não. Ônibus só existe porque existem passageiros
      b) Quem são os usuários regulares de ônibus?
     As classes sociais menos favorecidas. Aquelas com os menores ganhos mensais. As que não podem ter automóveis ou que, embora possuindo-os, não podem circular com frequência em face dos elevados custos de combustíveis e de manutenção. 
      c) Qual é a responsabilidade do usuário do transporte coletivo em relação às condições de trabalho do motorista profissional e do cobrador?
   Nenhuma. Muito antes pelo contrário: o usuário paga a passagem, gerando receita ao empregador do transporte coletivo. Nesta passagem estão embutidos todos os custos do empregador e a margem de lucro por ele determinada, significando dizer que o usuário paga a manutenção dos ônibus, os salários do quadro funcional da empresa de transporte, os impostos a que a empresa e os empregados se sujeitam, os pró-labores dos sócios da empresa, etc.
      d) Que tipo de prestação de serviço de transporte coletivo o usuário recebe em troca?
    Um grande número de empresas de transportes coletivos oferece:
  - veículos sem as menores condições de conforto e com manutenções precárias: sem  climatização ou com climatização inadequada às temperaturas ambientais; com peças soltas, provocando barulho ensurdecedor; com assentos prejudiciais à saúde; sem cinto de segurança; etc;
   -  descaso   no   atendimento  prestado   pelos   profissionais   da   área,   tanto empregados como empregadores. Este descaso é manifestado através da ausência de informações ou informações inexatas, grosserias, falta de paciência, freadas e arrancadas bruscas, curvas em alta velocidade, operação tartaruga, greve, insuficiência de veículos nas linhas, transporte de passageiros em pé, inclusive com superlotação nesta condição, etc.
Resumindo: o empregado está descontente com o patrão e desconta sua insatisfação no povo, naquele que gera sua fonte de renda. Isto está correto? Isto é justo?
Na hora da luta, empregados e sindicatos devem UNIR FORÇAS, FALAR A MESMA LINGUAGEM E SER CRIATIVOS quanto à demonstração das SUAS insatisfações AOS EMPREGADORES, usando, com sabedoria, incessantemente, o poder da palavra para mostrar, com transparência, a verdade dos fatos, deixando sem argumentos seus opositores e buscando, sempre, O APOIO DOS USUÁRIOS DOS SEUS PRODUTOS E/OU SERVIÇOS, pois esta união (empregado, sindicato e consumidor) é a que obtém CONQUISTAS RÁPIDAS E EXPRESSIVAS. Qualquer outra postura a ser adotada, mesmo que geradora de algum efeito positivo a quem levanta a bandeira de luta, sempre será paliativa, insatisfatória.
A luta trabalhista moderna é, no mínimo, curiosa, pois:
d   a) do ponto de vista do empregado o objetivo é o de melhorar proventos e benefícios, com simultânea redução da carga de trabalho, não importando quem será atingido com o movimento grevista; 
     b) do ponto  de  vista  da liderança sindical o objetivo é o de apoiar até mesmo as incoerências da classe trabalhadora, bem como usar o sindicato como um trampolim para a carreira política.