Mesmo quem não participa do dia a dia do Governo, mas tem discernimento e junta uma notícia daqui, outra
notícia de lá, acompanha os preços dos alimentos, produtos e serviços, acaba concluindo, sem medo de
errar, que o índice de inflação oficial não retrata a realidade, ou seja: a inflação real é maior do que a anunciada, bem maior (ou, então, que alguém com conhecimento de causa prove o contrário).
Este contexto leva as
categorias trabalhadoras a pleitear, quando dos respectivos Dissídios
Coletivos, aumentos reais, ou seja: aumentos em percentuais acima do da
inflação.
Todos tentam e algumas
categorias conseguem algum valor acima da inflação. Algo que, normalmente, não
satisfaz, mas que é um pouco melhor do que a simples reposição da “inflação
divulgada”.
O que me chama a
atenção nesse processo é a grande demonstração de
despreparo das categorias trabalhadoras em relação à forma de luta pelos seus
direitos. No
Brasil a forma de luta por melhores condições de trabalho é a greve. A greve traz prejuízos ao empregador. Mas eu
pergunto: só ao empregador? Não. Muitos segmentos do Mercado, quando em greve,
geram o maior prejuízo aos usuários dos seus produtos e/ou serviços, ou seja, justamente àqueles que, em última análise, são os que pagam os
proventos e os benefícios mensais dos grevistas.
Peguemos como exemplo
uma greve de transportes coletivos (público e privado):
o
a) O transporte coletivo existiria se não houvesse seu usuário?
Não.
Ônibus só existe porque existem passageiros
b) Quem são os usuários regulares de
ônibus?
As
classes sociais menos favorecidas. Aquelas com os menores ganhos mensais. As que não podem ter automóveis ou que, embora possuindo-os, não podem circular com frequência em face dos elevados custos de combustíveis e de manutenção.
c) Qual é a responsabilidade do usuário
do transporte coletivo em relação às condições de trabalho do motorista profissional e do
cobrador?
Nenhuma.
Muito antes pelo contrário: o usuário paga a passagem, gerando receita ao
empregador do transporte coletivo. Nesta passagem estão embutidos
todos os custos do empregador e a margem de lucro por ele determinada, significando dizer que o
usuário paga a manutenção dos ônibus, os salários do quadro funcional da
empresa de transporte, os impostos a que a empresa e os empregados se sujeitam,
os pró-labores dos sócios da empresa, etc.
d) Que tipo de prestação de serviço de
transporte coletivo o usuário recebe em troca?
Um
grande número de empresas de transportes coletivos oferece:
-
veículos sem as menores condições de conforto e com manutenções precárias: sem
climatização ou com climatização inadequada às temperaturas ambientais;
com peças soltas, provocando barulho ensurdecedor; com assentos prejudiciais à
saúde; sem cinto de segurança; etc;
- descaso no atendimento
prestado pelos profissionais da área, tanto
empregados como empregadores. Este descaso é manifestado através da ausência de
informações ou informações inexatas, grosserias, falta de paciência, freadas e
arrancadas bruscas, curvas em alta velocidade, operação tartaruga, greve,
insuficiência de veículos nas linhas, transporte de passageiros em pé,
inclusive com superlotação nesta condição, etc.
Resumindo: o empregado está descontente com o patrão e desconta sua insatisfação
no povo, naquele que gera sua fonte de renda. Isto está correto? Isto é justo?
Na hora da luta, empregados e sindicatos
devem UNIR FORÇAS, FALAR A MESMA LINGUAGEM E SER CRIATIVOS quanto à
demonstração das SUAS insatisfações AOS EMPREGADORES, usando, com sabedoria,
incessantemente, o poder da palavra para mostrar, com transparência, a verdade
dos fatos, deixando sem argumentos seus opositores e buscando, sempre, O APOIO DOS
USUÁRIOS DOS SEUS PRODUTOS E/OU SERVIÇOS, pois esta união (empregado, sindicato
e consumidor) é a que obtém CONQUISTAS RÁPIDAS E EXPRESSIVAS. Qualquer outra postura a ser adotada, mesmo que geradora
de algum efeito positivo a quem levanta a bandeira de luta, sempre será
paliativa, insatisfatória.
A luta trabalhista
moderna é, no mínimo, curiosa, pois:
d a) do
ponto de vista do empregado o objetivo é o de melhorar proventos e benefícios,
com simultânea redução da carga de trabalho, não importando quem será atingido
com o movimento grevista;
b) do ponto de vista da liderança sindical o objetivo é o de apoiar até mesmo as incoerências da classe trabalhadora, bem como usar o sindicato como um trampolim para a carreira política.