sexta-feira, 30 de julho de 2010

Sinceridade X Falta de Educação

Em várias ocasiões ouvi a afirmação de que a sinceridade machuca, magoa, fere a(s) pessoa(s) que dela é(são) alvo(s) e, de fato, em muitas situações que presenciei isto ocorreu. Percebi, entretanto, algo mais: um grande número de pessoas não sabe o que é ser "sincero" (virtude de ser franco) e, por este motivo, confunde "sinceridade" com "malcriação" (falta de educação). A pessoa que costuma ser grosseira com outra(s) normalmente é vista, por si própria e por várias outras pessoas, como sendo uma pessoa que "não enrola", que diz o que tem que ser dito, "doa a quem doer", independentemente do momento, do local, da situação que se apresenta e da(s) pessoa(s) à(s) qual(is) está se dirigindo. O conceito é o de que a pessoa está, simplesmente, sendo sincera. 
Não posso concordar com esta falsa e perigosa forma de ver as coisas, pois:
a) ser sincero (ou franco) não significa ser mal-educado (ou malcriado, indelicado, descortês, grosseiro). Há aí uma enorme diferença, já que a sinceridade reflete lisura de caráter enquanto a malcriação reflete a falta de bom senso, de respeito, de paciência, de ponderação, de entendimento, de tolerância, etc;
b) quem usa da malcriação para expressar sinceridade ou não percebe que a franqueza, por si só, já causa grande impacto, sendo totalmente desnecessário utilizar qualquer artifício para expressá-la ou, simplesmente, aproveita um momento, uma situação, para externar sua malcriação, não se mostrando preocupada com a questão da sinceridade, mas sim com a satisfação em "dar o troco" em alguém.
Creio que tudo começa com o imenso desejo de uma criança em querer dominar outras crianças com as quais se relaciona. A defesa é o ataque e ela está sempre se impondo, quer por gestos, como pelo tom da voz e pelo palavreado agressivo. Pela falta de alguém que possa lhe mostrar que está errada, a criança se acostuma a esta postura, que ganha ainda mais força na adolescência, até pelo fato de que muitos adolescentes passam a temer a agressividade, mascarando seu medo com a falsa justificativa de que o(a) mal-educado(a) está sendo sincero, "fala na lata o que tiver que falar". O que deveria ser repúdio é admiração ou seja: pura hipocrisia!.
Um exemplo bem marcante deste tipo de situação ocorreu no Big Brother Brasil 10, onde o vitorioso Dourado foi, de longe, o BBB mais grosseiro que apareceu até aquela edição do programa. No entanto, segundo o que se percebeu das "reportagens globais", foi idolatrado pelo público em razão da constante demonstração de sinceridade (Que absurdo!).
Para se usar de franqueza basta falar a verdade, com firmeza e olhando nos olhos, mas sem ironia, grosseria, agressividade e gritaria. Entendo que a expressão da verdade não desobriga o ser humano de medir suas palavras.

segunda-feira, 12 de julho de 2010

O Que é Pejorativo?

Uma palavra ou expressão é pejorativa quando é empregada num sentido depreciativo, desagradável, humilhante, ofensivo. Neste sentido, percebe-se que:
a) uma palavra ou expressão pode, por sí só, encerrar um sentido pejorativo, como por exemplo: mundana - prostituta - meretriz - quenga - tarado(a) - maníaco(a) - louco(a) - vagabundo(a) - vigarista - sem-vergonha - patife - cafajeste - relaxado - sem noção - viajou na maionese - e várias outras relacionadas ao comportamento, à postura do ser humano;
b) mesmo a palavra ou expressão que não tem um sentido pejorativo pode adquiri-lo, a partir da forma como é externada:
b.1) quando falada: a partir do sentido do assunto, associado à entonação da voz e a um gestual, como, por exemplo, boneca - veado - cadela - perua - tonto - burro - asno - anta - besta - cavalo - égua - palhaço - e várias outras;
Exemplificação: Olha! Ele é uma boneca! (o homem exclama, apontando para outro e imitando voz e gestos femininos).
b.2) quando escrita: a partir do sentido do assunto, com o uso de recursos como aspas e/ou negrito e/ou itálico e/ou ...
Exemplificação:
Para surpresa de todos os presentes, ele gritou com o rapaz:
- Você é "nada inteligente"!
Eu vejo desta forma esta questão de estar ou não agredindo alguém com palavras e me surpreendo quando, por exemplo, a imprensa escrita, falada e televisiva, em total apoio àqueles que se dizem lutadores pelos direitos humanos, começa a criar formas desnecessárias para se referir às pessoas:
- as palavras negro(a) e preto(a), que não possuem sentido pejorativo intrínseco, vem sendo substituídas, por exemplo, por afrodescendente;
- a palavra mendigo, que também não possui sentido pejorativo intrínseco, vem sendo substituída, por exemplo, por expressões como morador de rua ou sem teto;
- as palavras pobre e pobreza, que também não possuem sentido pejorativo intrínseco, vem sendo substituídas, por exemplo, pela expressão menos privilegiado(a). 
Então, a coisa é assim: o ser humano de cor branca É BRANCO, o de cor amarela É AMARELO, o de cor parda É PARDO, o de cor vermelha É VERMELHO e o de cor preta É AFRODESCENDENTE. Para mim, isto é pura hipocrisia. Soa-me mais como coisa maquinada por pessoa(s) influente(s), altamente preconceituosa(s), que cria(m) uma nova forma de demonstração de preconceito, mascarada para não parecer assim, para, após, poder se deleitar com as situações constrangedoras daí decorrentes. No meu entendimento, o fato de se utilizar uma destas palavras tradicionais não significa que se está depreciando ou humilhando ou ofendendo alguém. Tudo vai depender do sentido da abordagem. Pode-se, perfeitamente, dar sentido pejorativo à palavra afrodescendente, dependendo da natureza do assunto, da entonação da voz e do gestual empregado. Se está na cultura de uma pessoa ser depreciativa, ofensiva ou se ela se mostra desta forma num momento atípico de sua vida, de grande tensão, pressão, nervosismo ou, ainda, se ela não goza de boa faculdade mental, não será a mudança de uma palavra ou expressão que evitará que ela se comporte de forma a depreciar, humilhar, ofender alguém.
A continuar a hipocrisia das denominações, mais cedo ou mais tarde será introduzida uma expressão para substituir a palavra LIXEIRO (quem sabe COLETOR DE DETRITOS) ou PAI-DE-SANTO (quem sabe MESTRE DE CULTO AFROBRASILEIRO) ou outra palavra qualquer que ofereça a oportunidade de satisfação à pessoa formadora de opinião, com grande influência, mas altamente preconceituosa e hipócrita.
Nesta esfera das denominações a hipocrisia também é grande e fácil de ser percebida: se me referir a alguém, usando a palavra negro ou crioulo ou tição ou gay ou homossexual ou lésbica ou machorra ou sapatão, estarei cometendo crime de discriminação. Estarei sendo preconceituoso. Mas, se eu apontar alguém como sendo um tarado, maníaco, cafajeste, vigarista, branquelo, louco, vagabundo, sem-vergonha, patife e outras, certamente não serei visto como alguém que faz discriminação e sim como alguém que tem linguajar picante e pavio curto ou, ainda, o que é pior, alguém que usa de muita sinceridade. Aliás, está bastante claro, para mim, que a maioria das pessoas entende que usar de sinceridade significa, necessariamente, ser grosseiro(a). A maioria das pessoas não concebe a sinceridade dita com polidez, mas isto é assunto para outra abordagem.