sexta-feira, 18 de junho de 2010

Hipocrisia disfarçada de consternação

Uma das situações de maior falta de bom senso e hipocrisia que já presenciei muitas vezes, refere-se à cerimônia de velório. As pessoas chegam num velório e, via de regra, sentem a necessidade de dirigir a palavra aos parentes mais próximos da pessoa falecida:
a) há quem o faz porque acredita que tem a obrigação de consolar e, na maior parte das vezes, diz coisas sem sentido para aquele momento (O falecido está tão sereno!...Morreu feliz!...);
b) há quem acredita que aquele é o momento tão esperado para "dar o troco", senão na pessoa morta, pelo menos em quem era próximo dela, em função de enfrentamentos ocorridos no passado (Eu sabia que, mais cedo ou mais tarde, isto aconteceria!...);
c) há, também, quem apenas deseja saber o maior número de detalhes sobre o acontecimento (Mas como isto aconteceu?... Que horas eram?... Ninguém percebeu?...), para ter assunto para passar às outras pessoas, já com a conotação sensacionalista, de fofoca (Sabia que... É difícil acreditar que...);
d) há, ainda, quem não está nem um pouco preocupado com o falecimento e com os sentimentos dos que são próximos do falecido e conversa em bom tom sobre diversos assuntos, sem importância para o contexto daquele momento. Normalmente surge até uma roda de piadas.
Bem, mas uma coisa é certa: em poucas horas de velório o falecido recebe mais elogios do que recebeu em toda a sua vida. Verdadeiros, falsos, com segundas intenções, desinteressados, acanhados ou exagerados, os elogios afloram.
Que bom seria se as pessoas, em respeito à pessoa morta e/ou aos seus parentes, se restringissem a dar suas condolências e se mantivessem em silêncio, quem sabe orando, quem sabe recordando bons momentos compartilhados com aqueles. Que bom seria se as pessoas edificassem as outras enquanto em vida.
Neste contexto há outra questão que me intriga, que só consigo explicá-la seguindo pela linha da falta de bom senso, que é aquela relacionada ao enterro de uma pessoa. Considero descabido o ato de enterrar o corpo de uma pessoa, para, de tempos em tempos, visitar seu túmulo, fazer sua limpeza, renovar adereços, orar, chorar de saudades e falar com a pessoa morta ou, simplesmente, nunca mais se retornar ao cemitério. Entendo que se trata de algo completamente desprovido de bom senso, na medida em que:
a) em 1º lugar, o que ali está depositado é o corpo de uma pessoa e não uma pessoa;
b) em 2º lugar, faz-se algo por alguém em vida e não após a morte;
c) em 3º lugar, o espaço físico (para mim ocioso) ocupado por um cemitério seria de melhor proveito para os vivos se destinado a um grande hospital, um bom colégio, uma bela praça, um magnífico parque de diversões, um bonito conjunto residencial, etc.
Fico com a nítida sensação de que as pessoas valorizam mais a morte do que a vida e até me atrevo a dizer que esta postura pode estar relacionada com as religiões, posto que me dou conta de que o foco religioso, no caso da Igreja Católica, por exemplo, parece estar centrado na morte do filho do Criador nascido homem e não na sua ressurreição, a começar pelo seu próprio ambiente das igrejas, via de regra, frio, na penumbra e no silêncio (para mim, na maioria das vezes tétrico).
A cremação e a entrega das cinzas aos parentes da pessoa falecida me parecem ações de total bom senso.

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