sexta-feira, 10 de junho de 2011

Hipocrisia disfarçada de caridade.

No condomínio em que resido, à beira de uma das avenidas mais movimentadas de Porto Alegre, muitos moradores depositam sobre a lixeira, diariamente, sacolas com restos de comida. A lixeira está na calçada (passeio), na frente do condomínio, muito próxima da portaria. Ao indagar algumas destas pessoas sobre o motivo pelo qual fazem aquilo, afetando a imagem do condomínio quanto à limpeza e à organização, obtive uma só resposta: trata-se de alimentação destinada aos moradores de rua.
Fico impressionado sobre como algumas pessoas se colocam numa posição de tamanha superioridade em relação às demais, a ponto de estarem convictas de que suas ofertas, quaisquer que sejam, são preciosas/imprescindíveis àquelas necessitadas. Um resto de alimento, na maioria das vezes vencido, estragado, gelado, mal cheiroso e misturado sabe-se lá com o que, é largado em lugar infectado por diversos micro-organismos, a mercê do tempo, para ser aproveitado por um catador de papel, um morador de rua.
Pelo que percebo, estes meus vizinhos estão convencidos de que praticam a caridade, o que me leva a indagar se eles teriam a mesma convicção para oferecerem estas sobras da sua alimentação aos seus animais de estimação. Creio que não, pois, pelo que observo, seus animais de estimação são alimentados com rações especiais, sadias, vitaminadas e apetitosas. Não há a menor chance de se correr riscos com a saúde dos animais de estimação. Já com relação à saúde de pessoa que vive à margem da sociedade, que depende de "gestos caridosos" de quem tem para dar, bem... aí é diferente: a regra básica é expressa pela frase popular que diz que "em cavalo dado não se olham os dentes".
Certamente a situação que aqui descrevo representa uma realidade que se repete diariamente em diversas residências por este Brasil afora e se reveste de total falta de bom senso, de hipocrisia e inversão de valores.

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