segunda-feira, 19 de abril de 2010

Existem profissões e PROFISSÕES

O que, por exemplo, as profissões de lixeiro, bombeiro, enfermeiro e policial tem em comum e de diferente entre si e em relação às profissões de piloto de fórmula 1 e de jogador de futebol?

Risco para a Saúde/Vida
Todas as profissões citadas ou oferecem risco para a saúde dos respectivos profissionais (insalubridade, intoxicação, exposição às doenças e contusões, entre outros) ou risco de vida (atuação em incêndios, desmoronamentos, alagamentos, confronto com criminosos e acidente em alta velocidade, entre outros). O que muda de uma profissão para a outra é o nível em que os riscos se apresentam para cada uma e nesta questão os riscos enfrentados, por exemplo, por um bombeiro, por um policial ou um piloto de fórmula 1 são maiores em frequência e proporções do que aqueles enfrentados nas demais profissões citadas.
De que adiantaria para um bombeiro, o uso de capacete, roupas e calçados especiais, para protegê-lo de:
a) uma explosão a cinco ou dez metros de distância dele? ou
b) um desmoronamento de uma parede de concreto ou de algumas toneladas de terra sobre ele?
De que adiantantaria para um policial o uso de capacete e de colete a prova de balas em um confronto com bandidos armados com calibres pesados?
De que adiantaria para um piloto de fórmula 1 o uso de capacete, oxigênio, roupas que resistem ao fogo por alguns minutos e estar sentado dentro de um cockpit de fibra de carbono em um desastre violento, como o que ocorreu com o nosso saudoso Ayrton Senna ou em uma explosão violenta do veículo? 

Remuneração
O jogador de futebol e o piloto de fórmula 1 recebem, de longe, melhor remuneração do que os demais profissionais citados. Não advogo aqui pela equiparação das remunerações. O que me chama a atenção é a distância absurda existentes entre elas. Esta distância faz com que, por exemplo:
a) um lixeiro seja sempre uma pessoa proveniente da classe pobre, via de regra favelado. Na maioria das vezes executa seu trabalho sem a utilização de Equipamento de Proteção Individual-EPI (luvas, máscara especial, etc);
b) um policial possa ser tentado a aceitar propina de marginais ou possa não aceitar correr riscos, fazendo-se de desentendido, fazendo "corpo mole", etc;
c) um piloto de fórmula 1 ganhe uma pequena fortuna mensal

Responsabilidade
Na maior parte das situações que enfrentam no dia-a-dia, o bombeiro, o enfermeiro e o policial são os grandes responsáveis pelas vidas daqueles a quem prestam seus serviços. Seus objetivos são os de salvar vidas, zelar pela saúde de enfermos e pela segurança dos cidadãos.
E o piloto de fórmula 1 e o jogador de futebol? Ambos tem a responsabilidade de levar suas equipes a disputar posições classificatórias nos esportes que praticam, gerando entretenimento aos apaixonados destes esportes.

Prazer proporcionado pela profissão
Independentemente do fato de que o bom profissional é aquele que sente prazer no exercício da sua profissão, o piloto de fórmula 1 e o jogador de futebol conseguem desfrutar de prazeres inimagináveis aos outros profissionais citados, como, por exemplo: saber que o exato momento do exercício da profissão é acompanhado por uma sensação de diversão, de elevada adrenalina e de sensibilização do ego (pistas e gramados famosos, aclamação do público, assédio dos fãs, etc); usufruir dos melhores hotéis, restaurantes, praias e tantas outras mordomias pelo planeta afora, além de poder compartilhar momentos do cotidiano com famosos (artistas, chefes de estado, etc), travando relacionamentos que podem abrir novas (e grandes) oportunidades pessoais. Em outras palavras, o craque do futebol e o ás da fórmula 1 conseguem obter elevado padrão de vida em curtíssimo espaço de tempo. Os craques/ases das demais profissões citadas só conseguem experimentar elevado padrão de vida quando integram famílias de grande poder aquisitivo ou ganham prêmios expressivos em loterias, ou seja, por condições não relacionadas às suas profissões.
Para mim, estas situações descabidas, das quais, aliás, os profissionais citados não tem qualquer culpa, são tidas como normais por uma imensa quantidade de pessoas que tem aí  o seu lazer, o seu entretenimento, que é diuturnamente potencializado pelo marketing. Estes são os motivos que fazem com que estas profissões roubem as atenções como que por hipnotismo, sendo valorizadas, sobremaneira, por cada um de nós, seres humanos influenciáveis.
Se nos aprofundarmos nesta questão, veremos que vale tudo, quando se trata do nosso lazer, nosso entretenimento:
- torcemos para que ocorra um acidente espetacular na pista, para quebrar a monotonia da corrida de fórmula 1. A possibilidade de ocorrer vítima(s) é vista com certa frieza, afinal "são cavacos do ofício";
- cavamos penalidade máxima a favor do nosso time, por qualquer razão;
- validamos qualquer lance desleal dos nossos craques, dos quais, aliás, não exigimos nada além da habilidade no que fazem. Não precisam ter estudo, educação, princípios morais e éticos, etc;

- condenamos os árbitros pela constante descarada parcialidade, demonstrada sempre em favor do time adversário, nunca em favor do nosso. Se fosse em favor do nosso, aceitaríamos como algo absolutamente normal, justo;
- esbravejamos palavras de baixo calão contra aquele(s)/aquilo que tenta tirar o brilho do nosso lazer, nosso entretenimento;
- discutimos e, se preciso for, brigamos e o que é pior: muitas vezes ferimos ou matamos alguém. Tudo em função das nossas convicções esportivas.
Enquanto isto, o bombeiro, o enfermeiro e o policial continuam por aí, salvando vidas, protegendo pessoas, zelando pelo nosso bem estar mas, como de praxe, pouco lembrados por nós.
Tente imaginar, por exemplo, como seria sua vida num período de greve, digamos de apenas 10 dias corridos, do serviço de limpeza urbana.
Nós costumamos nos lembrar:
- do lixeiro, somente quando chega a hora de dar a gorjeta (esmola) do Natal, desde que estejamos predispostos a isto;
- do bombeiro e do policial, somente quando presenciamos um ato heroico e aí aplaudimos, aclamamos;
- do enfermeiro, somente quando ele nos alivia uma dor, um sofrimento.
No meu entendimento, todo este contexto caracteriza uma grande inversão de valores.

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