quarta-feira, 7 de abril de 2010

Hipolítica ou Polipocrisia?

A hipocrisia está tão escancarada na política, que é possível afirmar que estas palavras já são sinônimos, posto que uma manifestação não existe sem a outra. A política poderia receber uma nova denominação, do tipo ... hipolítica ou... quem sabe... polipocrisia (deixo a escolha ao gosto de cada um).
Na esfera internacional, observa-se que as Nações mais ricas do planeta, que frequentemente levantam a bandeira da responsabilidade pela segurança e o bem estar de todos os povos, vivem a mercê dos seus próprios problemas. Existe um sentimento de responsabilidade, que não é traduzido em ações. Estas Nações apenas jogam palavras ao vento, na medida em que não conseguem transformar intenções em soluções concretas contra o terrorismo, a miséria, a poluição, a contaminação e a depredação do meio ambiente, as drogas, as guerras e tantos outros problemas que afligem a humanidade como um todo. À frente de câmeras e microfones pregam a existência de vontade e esforço voltados à solução de todos estes problemas, mas, na realidade, não há vontade nem esforço neste sentido. As provas desta falta de ação estão aí para quem quiser ver:
- as ações terroristas continuam sendo financiadas e alimentadas por armas cada vez mais sofisticadas;
- a miséria continua sendo alimentada pelo descaso de governantes que colocam interesses outros acima do bem-estar dos seus governados;
- a poluição, a contaminação e a depredação do meio ambiente continuam alimentadas pelo descaso de autoridades governamentais;
- o tráfico de drogas continua crescendo graças à falta de ação e/ou à corrupção das autoridades governamentais;
- as guerras continuam sendo fomentadas por algumas Nações, por grupos terroristas e por líderes do crime organizado, que objetivam lucrar com o comércio legal e ilegal de armas e/ou obter mais poder.
No Brasil, percebe-se que a situação não é diferente: aqui existe muita hipolítica (ou polipocrisia). Aqui se trata de uma doença crônica: o brasileiro sempre sofreu com a falta de vontade e de esforço para a erradicação definitiva do "vírus corruptus", que fáz com que os governantes, tanto na esfera municipal, como estadual e federal, fiquem focados na questão do levar vantagem, esquecendo-se das questões realmente importantes para a sociedade, que são a saúde,  a segurança, o ensino, a geração de empregos, a moradia própria, o transporte, a aposentadoria e outros. Nestes 500 anos de história do Brasil, as poucas medidas concretizadas nestas áreas tiveram origens em ações paliativas de alguns governantes, obrigados que foram, em determinados momentos, a fazer algo para justificar um centésimo das promessas eleitorais que fizeram. Hipolíticos (ou polipócritas) deixam transparecer, de forma clara, o raciocínio de que não se faz necessária a vontade e o esforço para, por exemplo, melhorar o sistema de ensino e a oferta de emprego, já que isto representa um tiro no próprio pé. Pessoas com mais conhecimento entendem a importância do exercício da cidadania e, portanto, cobram mais, exigem mais, não são facilmente enganadas e isto representa uma séria ameaça à hipolítica (ou polipocrisia). Por outro lado, a oferta de emprego se reflete diretamente na melhoria da alimentação do povo. Com uma alimentação mais condizente, como trocar votos por cestas básicas, quilos disto, litros daquilo? Além disto, há que se considerar que a grande maioria dos nossos hipolíticos (ou polipócritas), nas mais variadas esferas do Poder,  estão convencidos de que o subdesenvolvimento brasileiro é coisa do passado. Agora, somos um País em desenvolvimento (emergente). Agora, as ações e os esforços, despojados de qualquer sentimento que não seja o de humanidade e o de caridade, se voltam para a ajuda aos países que continuam integrando a classe dos subdesenvolvidos. Agora temos que começar a sediar grandes eventos (copas mundiais, olimpíadas, mega-shows artísticos e outros) para aparecermos para o Mundo. Aqui no Brasil, os grandes problemas sociais estão solucionados e isto ficou patente no primeiro trimestre de 2010, quando o então Presidente Lula afirmou que, ao longo da sua vida política, aprendeu a maior de todas as lições, qual seja a de que "o brasileiro precisa de coisas simples para viver bem e não incomodar ninguém, que são: casa, carro, computador e um(a) companheiro(a)", dando a entender que nós, brasileiros, já estamos tão distantes dos grandes problemas sociais e econômicos, que nosso foco passou a ser os bens materiais e os assuntos sentimentais/sexuais. Incrível esta percepção do ex-Presidente, não? Creio que nem mesmo um velho monge budista teria este alcance.
De uma grande parcela dos atuais políticos não se pode esperar nada além daquilo que já nos acostumamos a ver, quase que diariamente, nos meios de comunicação. Há escândalos de corrupção e desmandos no Congresso, no Senado, nos Ministérios, nos governos estaduais e municipais, inclusive na Justiça. Por falar no judiciário, o maior julgamento já feito neste País, o do “Mensalão”, também merece ter a conotação de maior desastre jurídico da história deste País, uma vez que após cerca de dois meses de julgamento, de fartas expressões que só juristas entendem e de desavenças oriundas de interpretações da Lei, tudo com ampla cobertura por parte da imprensa, foi decidido pela inocência de alguns réus e pela branda punição dos culpados. O que mais me chamou a atenção após as condenações foi o fato de:
a)  parlamentares  condenados  se  mostrarem  com  vida  absolutamente  normal,  como aconteceu com um tal de José Genuíno, que assumiu posto na Câmara dos Deputados;
b)  a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara aprovar, por unanimidade, uma proposta de emenda constitucional (PEC 37) que permitiria ao Congresso sustar decisões do Poder Judiciário. Até então o Legislativo poderia mudar somente decisões do Executivo. O objetivo da proposta, seria o de permitir que o Congresso também tivesse a possibilidade de alterar decisões do Judiciário, caso, no seu entendimento, elas exorbitassem o "poder regulamentar ou os limites de delegação legislativa". Essa pretensa visão da exorbitância do judiciário, denominada pelo Legislativo de “ativismo judiciário”, ganhou força com a decisão do STF em permitir o aborto de fetos anencéfalos. Portanto, bem claro que em nada se relacionou ao fato de a justiça estar julgando diversas situações de prática de corrupção por parte de parlamentares. Será? Arnaldo Jabor, em entrevista à Folha Política.com registrou o seguinte sobre esta pretensão absurda do Legislativo: Se aprovada, o pior pode acontecer, estamos na rota do fracasso histórico. Há uma união nacional de canalhas em torno dessa emenda. Querem criar o paraíso da roubalheira, onde os canalhas poderão roubar e proibir investigações".
Dá para acreditar nisto? Felizmente, por pressão de movimentos populares, a PEC 37 não foi aprovada. 
Uma outra situação que, particularmente, chamou-me a atenção diz respeito a um projeto denominado de AEROMÓVEL. Em 1983 foi acionado, aqui em Porto Alegre, o protótipo de um veículo futurista, que se deslocava de forma segura sobre trilho aéreo, sem fazer qualquer ruído e sem causar poluição ambiental, utilizando propulsão pneumática. Este veículo, concebido por Oskar Coester e sua equipe, desenvolvido aqui no RS, foi denominado de AEROMÓVEL.
Lembro que o projeto conquistou amigos e inimigos e que, vai daqui, vai de lá, ficou hibernando, pelo menos aqui no Brasil, já que foi implantado, com sucesso, na Indonésia (Jakarta), onde funciona até hoje.
Posso imaginar as dificuldades enfrentadas pelo projeto àquela época, certamente relacionadas à substituição gradativa de um sistema de transporte tradicional (composto por carroças disfarçadas de ônibus, repleto de problemas) por um sistema “n” vezes melhor: jogo de interesses; resistências às mudanças; disputa de poder; etc.
É fácil imaginar que após estes 30 anos Porto Alegre seria outra cidade, se, naquela época, o AEROMÓVEL tivesse sido aprovado pelas autoridades competentes. Visualize mentalmente, comigo, esta nova cidade:
-   todos os bairros ligados entre sí por linhas de trens aéreos;
- estações de embarque/desembarque  modernas,  onde  as  passagens  seriam compradas/carregadas em chips de cartões e onde os passageiros estariam protegidos do frio, do sol e do vento;
-  novo visual para os passageiros, que, durante seus deslocamentos contemplariam novas paisagens da cidade, justamente em face do transporte deslocar-se a cerca de 10 metros do chão;
-  inexistência de ônibus circulando na cidade, com a eliminação dos respectivos corredores e de vários semáforos, aumentando a fluidez do tráfego dos veículos leves;
-  redução significativa da poluição do ar e sonora.
Com o advento da Copa do Mundo em 2014 e das Olimpíadas em 2016, este projeto foi reativado, porém de uma forma que reputo como sendo, no mínimo, curiosa, engraçada: no percurso de míseros 814 metros entre o Aeroporto Internacional Salgado Filho e uma estação do Trem Metropolitano, a um custo de cerca de R$ 37,8 milhões. No meu modo de ver, isto foi feito apenas para apresentar uma novidade à FIFA, pois não estou convencido de que turistas aqui desembarcados passem a se utilizar do AEROMÓVEL, para se deslocarem para a rede hoteleira da cidade. Não consigo imaginar turistas utilizando o AEROMÓVEL para se deslocarem a uma estação da TRENSURB mais próxima, para embarcarem no trem e 6 ou 7 minutos após desembarcarem no Centro de Porto Alegre e se deslocarem a pé, carregando suas bagagens, aos hotéis centrais, transformando-se em chamariz para todo o tipo de marginal (pivete, batedor de carteira, etc).      
Bem, a verdade é que impossibilitado que estou de sensibilizar hipolíticos (ou polipócritas) para a abordagem que aqui faço, resta-me deixar registrados alguns questionamentos, dirigidos àqueles que acessarem este blog, de forma que, ao respondê-los, possam refletir a respeito, se assim o quiserem:
- a metodologia de ensino no Brasil tem se mostrado eficiente? A alfabetização constante e abrangente e o adequado preparo do estudante para o Mercado de Trabalho são realidades incontestáveis?
- houve significativa melhoria da remuneração do professor, a qual, aliada às ações concretas voltadas à manutenção da sua adequada qualificação profissional, tem gerado crescente motivação da Classe?
- há evidências claras de que, do Oiapoque ao Chuí, a quantidade de escolas é suficiente para a demanda de alunos e que as mesmas estão equipadas para proporcionar a aplicação de modernos métodos de ensino?
- a Previdência Social está organizada, com atendimento rápido, diagnósticos precisos, internações tempestivas?
- a saúde é desenvolvida por equipe altamente técnica, bem remunerada, motivada e consciente do seu importantíssimo papel de "agente da preservação da vida humana"?
- a Previdência Social vem recebendo significativos investimentos no tocante à reforma, à construção de hospitais e à aquisição e instalação de equipamentos de ponta?
- o povo tem acesso gratuito, de pronto, à toda medicação de uso imprescindível e/ou de custo incompatível com a sua renda?
- os assaltos, os furtos, os sequestros relâmpagos, as balas perdidas e o crime de uma maneira generalizada são fatos cada vez mais raros nos dias de hoje?
- percebe-se, claramente, as efetivas ações conjuntas e  planejadas das autoridades governamentais, militares e policiais, relativamente ao combate ao crime?

- existem ações claras, conjuntas, de todas as esferas governamentais com foco na revisão e no aperfeiçoamento do sistema penal e carcerário?  
- a oferta de emprego é praticamente igual à demanda?
- há uma preocupação notória das autoridades governamentais com o baixo poder aquisitivo do salário mínimo?
- as autoridades governamentais demonstram, claramente, sua preocupação com a qualificação do servidor público, bem como com redução dos gastos públicos?
- percebe-se, claramente, as mudanças benéficas que as autoridades governamentais vem promovendo no processo de aposentadoria, sempre com foco na preservação da dignidade do aposentado?
- a casa própria está ao alcance das classes sociais menos favorecidas?
- percebe-se, em todo o País, o êxodo das favelas para moradias populares, que proporcionam significativa melhoria da qualidade de vida?
- tem sido de grande monta os investimentos dos governos Federal, Estadual e Municipal no desenvolvimento do sistema viário?
- falando em termos de rodovias e ferrovias, o território nacional se transformou num grande canteiro de obras, relativamente às construções, reformas, ampliações e duplicações de estradas, pontes e ferrovias?
- é evidente o incentivo governamental ao desenvolvimento do transporte fluvial nas grandes bacias hidrográficas brasileiras?

- alagamentos, engarrafamentos e poluição ambiental deixaram de ser problemas para as principais cidades brasileiras?
- a inflação  e o déficit público não são mais problemas para o Brasil?
- os políticos brasileiros, na sua maioria, estão imunizados em relação à corrupção? Não há mais espaço para "levar vantagem" ou para o "jeitinho" na política brasileira? Hoje realmente se pratica o "governo do povo, pelo povo e para o povo" no Brasil?


Nenhum comentário:

Postar um comentário